
Ela não sabia o que fazer.
Porque toda vez que você volta eu tenho que chorar feito uma criança indefesa? Porque não consigo te deixar pra tras? Porque você faz questão de me maxucar assim? Será que não vê o quanto sofro por sua causa? Me deixa ao menos tentar sarar essa ferida que insiste em latejar e sangrar o tempo todo, me ajuda a te esquecer, me ajuda a te matar aqui dentro. Parasita, levou o melhor de mim, tomou todo o espaço possível, me sugou até não ter mais nada, mas me sustentava, me mantinha de pé... onde está você agora?! Onde está você e seus malditos abraços? Aqueles abraços que duravam uma eternidade, lembra? Quantas lágrimas derramei ali, quantos risos eles me renderam, quanto saudade dissipada, quanta raiva evaporada, quanto amor eu ofertei, todo o meu amor, entregue nas suas mãos... O que esse amor é agora? Nada, absolutamente nada, você tenta desesperadamente voltar atras, você viu o tempo passando? O tempo que você deixou resolver as coisas nos separou e agora é tarde meu amor, muito tarde, são apenas lembranças, dolorosas lembranças... Se você ao menos soubesse o quanto eu te amei, o quanto eu te amo agora, eu não posso mais, sinto muito, eu não posso mais. Meu amor superou todas as barreiras, ódio, ciúme, inveja, preconceito, sexo, um amor de criança, um amor incondicional, um amor tão forte, tão puro que nem se considerava amor, viveu por você e te guardou segura dentro dele, agora me consome, me devora, implorando pela sua volta. Vai embora de uma vez, não me torture assim, mas quando minhas lembranças te atormentarem, lá na frente, depois de muitos e muitos anos, lembre-se que alguém viveu por você, e ainda te ama com a mesma intensidade dos primeiros meses, te deseja como a primeira vez, inteira, não pela metade, e espera anciosamente pela sua volta.
Aquele dia se arrastava. Como todas as outras vezes tentava encontrar na casa algo que pudesse me manter ocupada, cada minuto era precioso, e eu precisa deixar minha mente vagar pra algum lugar longe dali. O corpo começou a pedir pelo seu combustível, desesperado mandava pra mim sinais de que o álcool já não corria em minhas veias, eu precisava beber, eu não podia beber. Procurei uma vassoura, a minha primeira - e única - idéia. Limpava a casa quase em câmera lenta, uma música tocava no rádio do vizinho, já não havia mais nada pra limpar, me sentei na varanda, acendi um cigarro, senti aquele costumeiro buraco em meu peito, a dor do vazio, a dor da perda, o cigarro acabava, e o dia também.
No meu quarto, na minha cama, na minha janela, a lua se formava limpa, imensa, linda, era tarde, não deveria ter ido pra cama, o sono me envolveu e eu já não podia respirar, a escuridão me pegou e eu já não podia fugir, sentia todo o meu sangue congelar e eu estava na frente dele. Ele veio até mim, me afoguei em seus braços de novo, ele estava nos meus sonhos, ele nadava nos meu olhos. Ah se eu pudesse te-lo assim pra sempre! O medo se apoderava de mim, dançavamos sob a luz azul, eu não era nada sem ele, ele estava desaparecendo... eu estava de volta na cama, eu estava de volta. Todo aquele tormento de novo, o buraco latejando novamente no peito, corri as mão pela cama, não sabia o que procurava, ele não estaria ali, a lua estava indo embora... e eu acordei sozinha.